
CULTURA
POPULAR E FOLCLORE
Cultura popular é
um conceito originado da junção do termo
francês civilization, que remete ao
material, e do termo alemão kultur,
que remete ao imaterial, ao subjetivo. Por sua
vez, popular é algo do povo. Desta forma,
cultura popular diz respeito ao material e ao
subjetivo do povo. "Cultura Popular
pode ser definida com qualquer manifestação
(Arte, Dança, Festa, Folclore, Literatura) em
que o povo produz e participa de forma
ativa."
Porém, até na atualidade, ela ainda não foi
muito bem definida, nem mesmo pela antropologia
social que dedica grande atenção ao estudo da
cultura. Seu significado e aquilo sobre o qual
ele diz respeito ainda são fontes de
discordância, não caracterizam um consenso. Os
pontos de vista sobre esse tema variam desde
aquele em que fica claro, implícita ou
explicitamente, que cultura popular não é
absolutamente uma forma de saber, baseada na
máxima “o povo não tem cultura” como base de
idealização romântica das tradições. Essa
primeira concepção se relaciona com o contexto
das sociedades capitalistas onde o trabalho
intelectual diretamente relacionada com as
elites assume o papel de destaque e
superioridade em relação ao trabalho manual que
diz respeito a uma maioria, chamada povo.
É possível a demonstração da existência de
interpretações diferentes daqueles que tentam se
impor. Seria como se a sociedade transformasse
essa unidade ilusória e recuperasse o múltiplo,
o diverso. As peculiaridades das culturas
populares podem ser inseridas nesse contexto
como um conjunto de criações que emanam de uma
comunidade cultural, expressas por um grupo ou
por indivíduos que respondem reconhecidamente às
expectativas da comunidade enquanto expressão de
sua identidade cultural e social. Incluem-se
nesse processo as normas e os valores, como a
língua, a literatura, a música, a dança, os
jogos e brincadeiras, os ritos, os costumes, o
artesanato a arquitetura e outras artes.
A Cultura popular
e a Cultura de Massa
Atualmente, a cultura de massa é
utilizada de forma generalizada, englobando toda
e qualquer manifestação de atividades ditas
populares. Acaba que tudo pode ser inserido no
cômodo e amplo conceito de cultura de massa.
Porém, quando é questionada a real abrangência
do termo em questão, os que o usam
indiscriminadamente se vêem em situação difícil.
Pensar o povo como massa é subestimar o
primeiro, uma vez que massa é uma soma de
indivíduos, é inerte e instável. Ela é sempre
passiva, sendo manipulada por influências
instáveis da maioria, das modas e dos caprichos
passageiros. Já o povo é movido por princípios
individuais.
Temendo ser diferente do conjunto, os indivíduos
que compõem a massa jamais discordam da maioria.
Se alguém perguntar a uma pessoa se ela já viu
determinado programa da moda, provavelmente ela
irá assisti-lo, mesmo que não seja do seu gosto,
para sentir-se parte do todo, será “como todo
mundo”. Assim sendo, a inserção nesse aglomerado
de indivíduos impõe um padrão, todos se vestem
da mesma forma, gostam da mesma coisa, agradando
sempre ao outro. Então, há uma renuncia da
individualidade.
Desta forma, cultura popular jamais pode ser
confundida com cultura de massa, tendo em vista
que essa, na verdade não existe. Isto se dá pelo
fato de que a massa, por ser apática, jamais
opina, não é consciente. E a cultura, para
realmente existir, precisa da intervenção
individual.
A cultura popular é algo totalmente diverso. Ela
tem movimento próprio, movendo-se de acordo com
os seus princípios. Cabe ao povo formar a sua
cultura peculiar, responsável por o diferenciar
dos demais.
Já a falsa cultura de massa é simplesmente a
manipulação dada pelos meios de comunicação. Não
é por outro motivo que Britney Spears e o Mc
Donald´s são apreciados e consumidos por pessoas
de diversos países. Também não é por outra razão
que a cultura popular e o folclore de cada povo
vem sendo engolidos pelo desejo da maioria, pela
massificação mundial. Sem se preocuparem com as
diversidades culturais, todos recebem a mesma
falsa e estereotipada “cultura”.
Semelhanças entre
folclore e cultura popular
A semelhança entre folclore e cultura popular é
tamanha que muitos acreditam que é melhor chamar
o folclore de cultura popular. Tanto que no meio
dos festejos somente um ato de cirurgia teórica
poderia separar de um todo significativo para os
seus praticantes e consumidores populares o que
é erudito, popular ou folclórico, a festa é o
conjunto de tudo.
Porém, como já vimos anteriormente há algumas
diferenças notáveis, mas as congruências
realmente são muitas já que ambos procuram ler a
memória de um povo nos pequenos sinais da vida
cotidiana, como costumes, objetos símbolos
populares, enfim, os ritos ocultos presentes no
cotidiano que ninguém sabe ao certo da autoria,
mas que são repetidos de pessoa para pessoa,
transmitidos de geração em geração, de forma
codificada, mas não escrita, oralmente, por
imitação direta e sem a organização de situações
formais e eruditas de ensino e
aprendizagem.Ambos fluem através das relações
interpessoais.
Outro importante ponto em comum é a valorização
da tradição, tanto que esta palavra é mencionada
incontáveis vezes nas definições tanto de um
quanto de outro. Luis de Câmara Cascudo mistura
as duas noções e define o folclore como a
cultura popular tornada normativa através da
tradição, tradição esta que é estendida por
alguns teóricos até a cultura primitiva.Pode se
afirmar que a cultura popular também é formada
por resíduos da cultura culta de épocas, às
vezes até de lugares, como é o caso de países
que sofreram a influência da imigração, filtrada
através do tempo pela estratificação social.
Contudo cultura popular e folclore não devem
ficar somente na valorização do passado, a
cultura popular mesmo composta por esses
elementos residuais e fragmentários resiste a um
processo de deterioração contrastando assim ao
saber culto dominante, sendo assim um tipo de
ação sobre a realidade social já que eventos
culturais articulam-se no espaço das relações
entre grupos e segmentos sociais, são produtos
significantes da atividade social de homens
determinados, cujas condições históricas de
produção, reprodução e transformação devem ser
desvendadas.
Já é justamente na tradicionalidade que o
folclore oferece forte resistência política às
inovações impostas pelo colonizador ou pelas
classes dominantes sendo ele dessa forma
politicamente ativo apesar de considerado
antiquado e conservador para as classes
eruditas, mas é vivo e atual para as casses
produtoras de sua própria cultura. As grandes
festas religiosas reproduzem simbolicamente a
desigualdade social da vida cotidiana, assim,
consagram e legitimam com os símbolos coletivos
do sagrado a diferença desigual, os rituais que
misturam sujeitos e grupos de diferentes classes
sociais acabam sendo situações de simbolização
da própria ordem desigual, expressam relações
solidárias e traduzem formas populares de
resistência a um domínio político simbólico de
outras classes, é o poder dos fracos.
O fato folclórico deve ser compreendido dentro
do espaço de cultura de que é parte, na vivencia
pessoal, no interior das matrizes sociais da
vida coletiva assim como eventos culturais devem
ser definidos a partir de critérios internos as
situações observadas. É possível descrever fatos
isolados do folclore sem enxergar o homem social
que cria o folclore que se descreve, mas é muito
difícil compreende o sentido humano do folclore
sem explicá-lo através do homem que o produz e
de sua condição de vida, pois por si só o
folclore não existe, ele é parte popular em um
mundo onde povo é sujeito subalterno.
Cultura é um processo dinâmico, pois ocorrem
transformações positivas, muitas vezes de forma
não intencionada e não se consegue evitar a
mudança de significados que ocorre no momento em
que se altera o contexto em que os eventos
culturais são produzidos. O mesmo acontece com o
folclore já que para muitos teóricos o que vemos
como folclórico não existe em estado puro e sim
é uma situação de cultura, um instante fugaz na
vida de sociedades através da cultura.Fatos
folclóricos são falas, linguagem, não são
objetos que são congelados nos museus e
sentem-se condenados a morte, são coisas vivas,
modos de sentir, pensar, viver e festejar, por
este motivo sofrem influências e por sua vez
também influenciam, podendo até tornarem se
erudito. Para serem compreendidos devem ser
procurados através de sua vida na cultura e sua
articulação com outras formas vivas dessas
culturas, que são o produto coletivo de pessoas
que criam, dançam e cantam.
Mais do que tudo, tanto o folclore quanto a
cultura popular procuram expressar e reafirmar a
identidade da nação. Quer seja como um todo,
quer seja identificada por regionalismos ambos
colaboram para a manutenção da unidade do país,
do sentimento de identidade que poderia ter sido
destruído. Eles imaginam uma sociedade onde,
destruídas as diferenças entre os homens, a
oposição entre a cultura erudita e a cultura
popular dê lugar a uma cultura humana, alguma
coisa que como modo de sentir, pensar e agir de
todos, expresse finalmente a descoberta de um
mundo solidário. Como sita Antonio Augusto
Arantes: “Fazer arte é construir com cacos e
fragmentos de um espelho onde transparece o que
há de mais abstrato num grupo humano: sua
organização”.
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